“A política é o caminho para conseguirmos melhorar a vida das pessoas”, diz Fátima Pelaes

Republicana se destaca no cenário político nacional por sua contribuição significativa à causa feminina e à assistência social

Publicado em 15/3/2024 - 10:10 Atualizado em 18/3/2024 - 18:21

Brasília (DF) – Fátima Pelaes se destaca no cenário político nacional por sua contribuição significativa à causa feminina e à assistência social. Com cinco mandatos como deputada federal, Pelaes usou sua experiência em sociologia e administração de projetos para impulsionar direitos das mulheres e políticas de inclusão. Ela também foi secretária nacional de Políticas para Mulheres de 2016 a 2018. Entre suas realizações enquanto deputada federal pelo estado do Amapá, destacam-se a autoria da Lei n° 11.942/2009, que proporcionou assistência a mães e gestantes presidiárias, e a Lei n° 10.421/2012, assegurando licença-maternidade para mães adotivas, evidenciando seu compromisso com o avanço da igualdade e justiça social.

Neste mês da mulher, a republicana ressalta a importância da participação feminina na política como meio essencial para promover mudanças sociais significativas e melhorar a qualidade de vida da população, e também fala sobre sua trajetória na vida pública.

Confira a entrevista completa:

1) Como teve início sua trajetória na vida política?
Fátima Pelaes – Eu já fazia parte de grupos sociais, a exemplo da Pastoral Carcerária. Mas de fato, a minha participação na vida pública começou na Legião Brasileira de Assistência, a LBA, onde fizemos um trabalho muito grande de assistência social em todo o estado do Amapá. Em 1989, saí porque estava grávida; e à época, foi feita uma pesquisa que mostrou que eu tinha uma forte liderança, e recebi convite para participar da política. Quando estava na LBA, tinha a discussão da Lei Orgânica de Assistência Social, para que nós pudéssemos transformar a assistência social como um direito de cidadania e não um favor.


2) E o que a impulsionou a se candidatar ao cargo de deputada federal?

Fátima Pelaes – O fato de termos essa lei, que era a regulamentação do artigo 203 e 204, me impulsionou a me candidatar a deputada federal. Foi por meio do meu mandato que conseguimos aprovar a lei. Tive atuação na Câmara por cinco mandatos, e também já concorri ao Governo do Amapá e ao Senado Federal. Para mim, a vida pública é o caminho para conseguirmos melhorar a vida das pessoas. É na política que temos a execução das leis, podemos popularizar essas leis e cobrar das autoridades, que têm a responsabilidade de colocar a execução dessas legislações em prática para beneficiar a população.

 

3) Sua família foi inspiração?
Fátima Pelaes – Sou de uma família com oito mulheres, sozinha, não tinha nem um homem ali, eram apenas minha mãe, minha avó e minhas seis irmãs, então essa figura da mulher é muito forte na minha vida. Ver a dificuldade, o sofrimento da minha mãe para nos criar, isso me fortaleceu. Então quando cheguei ao Congresso, trabalhei para fortalecer o movimento de mulheres. Tenho hoje duas leis que apresentei, que é a licença maternidade para a mãe adotiva, e o caso dos berçados, para mudar a lei de execução penal, para garantir àquelas mulheres que estão em condição de mãe dentro da penitenciária, possam ter um tratamento diferenciado.

 

4) Quais os desafios enquanto deputada federal?
Fátima Pelaes – Eu vejo que os desafios para a mulher, principalmente para uma deputada federal, é a questão das atividades ainda dentro de casa. Você tem que sair, tem que viajar, tem os filhos, e ainda tem toda aquela questão de que é da responsabilidade da mulher. Sempre tive um companheiro que me deu todo apoio. Quando assumi o mandato de deputada, meu filho tinha acabado de completar dois anos. Então não é fácil, não. Acho que nós precisamos trabalhar isso. Muitas coisas avançaram, mas ainda continuo achando que essa coisa da responsabilidade da mulher, por toda atividade ainda dentro de casa, acaba dificultando bastante a atuação da mulher na política, e é preciso mudar essa realidade.

 

5) A voz da mulher ainda é negligenciada?
Fátima Pelaes – Nós temos muitas leis, por exemplo, a lei da violência política, ela veio para combater isso. Há quanto tempo a gente não sofria? Você chega numa mesa de trabalho onde está ali uma executiva, e aí, quando você vai falar ninguém escuta. E quando outro fala, todo mundo escuta. Então você tem que bater na mesa para dizer o que quer. Eu acho que essa questão da mulher, de achar que nós não somos capazes, ainda persiste, mas precisamos mudar isso, e por acreditar nisso e romper barreiras é que estou na política.

 

6) Quais políticas públicas foram implementadas durante sua gestão na Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres?
Fátima Pelaes – Lançamos o programa Brasil Mulher. Ele tinha o papel de buscar a mobilização dos movimentos sociais, também para que as instituições nos estados, nos municípios, times de futebol, pudessem engajar todos para combater a violência contra a mulher e buscar cada vez mais fortalecer e acreditar no papel da mulher na sociedade. Esse programa Brasil Mulher foi uma marca muito forte. A gente hoje ainda vê vários times de futebol abrindo faixas e fortalecendo isso. Sempre procurei trabalhar na questão da mobilização, de juntar pessoas. Sou socióloga e vim de projetos sociais, então, acredito muito que nós precisamos estar juntos.

 

7) E os maiores desafios frente à pasta?
Fátima Pelaes – O movimento voltado à esquerda foi muito forte para impedir que se fizesse algo em relação à política pública da mulher. Eu acredito que a questão do direito da mulher, da valorização da mulher e empoderamento, não passa por sermos de direita, de centro, de esquerda, passa porque nós somos mulheres, e é isso que nós temos que ver. Mulheres estão morrendo, mulheres estão sofrendo por falta de legislações que não são cumpridas efetivamente. Exemplo disso são as creches, o que tem de mulheres que não trabalham porque não têm onde deixar seus filhos pela falta da oferta de creches pelo poder público! Avançamos muito, no entanto, é preciso popularizar o que já temos de legislação e cobrarmos, para que possamos efetivar isso na vida de todas as nossas mulheres.

 

8) O que ainda é preciso ser feito de políticas públicas para as mulheres?
Fátima Pelaes – Eu acredito muito numa grande revolução no sentido de fazer com que os veículos de comunicação mostrem o que é a luta da mulher, a importância da valorização da mulher. Eu sempre falo que Jesus foi um grande defensor das mulheres, e isso é muito relatado na Bíblia. E o que acontece hoje? Temos leis, mas ainda existem homens que se acham dono, que acham que têm que apedrejar, têm que matar. É preciso uma conscientização, esquecendo a questão da direita e esquerda, é crucial avançarmos. A bandeira da defesa do direito da mulher, da valorização da mulher, do empoderamento da mulher e da igualdade de oportunidades deve ser uma pauta de todos nós, homens e mulheres.

 

9) Qual mensagem deixa para as mulheres republicanas de todo o Brasil?
Fátima Pelaes – Que possamos acreditar na política, a boa política, a política que leva mensagem de quem nós somos, o que podemos fazer como mulheres, e quando a mulher apoiar um homem, que ela coloque na pauta desse homem também as nossas lutas. E a gente pode fazer política não só sendo candidata, podemos fazer isso participando, mostrando, acompanhando e sempre lembrando a questão dos direitos da mulher, a busca da igualdade, de oportunidades.

 

Texto: Ascom – Mulheres Republicanas Nacional
Fotos: Cedidas

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