O Enem e a invisibilidade do papel da mulher no Brasil

Artigo escrito pela deputada federal Maria Rosas (SP)

Publicado em 8/11/2023 - 10:13

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), abordou na edição de 2023, um tema delicado, polêmico mas necessário na redação. O tema mulher ganhou mais uma visibilidade nacional, “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

Isso reforça uma questão social que já vem sendo debatida em todas as esferas da nossa sociedade e agora ganhou força chegando aos jovens e sendo tema de um exame que é a porta de entrada para universidades e institutos públicos e privados, onde no Brasil, 61,3% dos candidatos são mulheres. O tema traz à tona duas questões: o fato de não se valorizar devidamente o trabalho e a dedicação da mulher no trabalho realizado em prol da casa e da família e a falta de políticas públicas para minimizar esse trabalho doméstico quase que exclusivo das mulheres imposto por uma sociedade patriarcal.

O termo “Trabalho de Cuidado” vem de “work care”, e tem sido utilizado para caracterizar as atividades que são desenvolvidas no âmbito da economia dos cuidados. Nele, cabe por exemplo, o trabalho doméstico, remunerado ou não, o serviço prestado por cuidadores de idosos e pessoas com deficiência, entre outros.

Segundo o Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam mais de 21h semanais (em média) para tarefas domésticas e o cuidado com outras pessoas. A Oxfam Brasil ressalta que mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado.

A pandemia foi uma potencializadora do trabalho de cuidado, dando visibilidade a essa sobrecarga nas mulheres, onde muitas tinham um trabalho formal e com o isolamento acumularam outras funções nos cuidados de filhos, parentes ou afazeres domésticos.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022, nove em cada dez mulheres em casa preparam e servem os alimentos, arrumam a mesa e lavam a louça, além de cuidarem da limpeza das roupas. A participação de mulheres também é superior a 70% quando se trata de limpar a casa, pagar contas, fazer compras ou pesquisar preços. O IBGE também mostrou que a taxa de realização de cuidados de pessoas sem remuneração, realizado pelas mulheres, é de 29,3% em 2022.

Em 24 edições do Enem, esta é a segunda vez que o tema mulher faz parte da redação do exame. Em 2015, a violência contra a mulher foi o centro da discussão, “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, em que jovens deixaram seus relatos sobre sua visão da violência vivida contra as mulheres no Brasil.

Em suma, o ENEM reforça a questão da falta de apoio que a mulher vive ainda no ambiente doméstico. Esta invisibilidade facilita a discriminação e o estereótipo de que a mulher é vedada ao trabalho doméstico, além de minimizar a participação econômica das mulheres e aumentar a desigualdade em relação aos homens. A dedicação do cuidado não é visto como trabalho perante a sociedade e sim, visto como uma obrigação. Precisamos dar atenção e valorizar as mulheres, seu trabalho e dedicação, sem deixar de incentivá-las a ter uma vida social e econômica ativa.

*Os artigos publicados no Portal Republicanos são de responsabilidade de seus autores
Foto: Douglas Gomes

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