Em live, lideranças do Republicanos debatem sobre o tema racismo

Encontro virtual faz parte das comemorações de 15 anos do Republicanos, a completar dia 25 de agosto

Publicado em 20/8/2020 - 21:34

Brasília (DF) – Às vésperas das comemorações dos 15 anos do Republicanos, a completar no dia 25 de agosto, a Agência Republicana de Comunicação (ARCO) promoveu, nesta quinta-feira (20), mais uma live para tratar sobre racismo, tema sério e que deve ser debatido sempre, até que não haja mais distinção devido à cor de pele.

Pata debater o assunto, a ARCO reuniu o vice-presidente nacional do Republicanos, deputado federal Márcio Marinho (BA), o secretário nacional do Idosos Republicanos, deputado federal Ossesio Silva (PE), e a coronel Helena, pré-candidata à Prefeitura de Rio Preto, São Paulo.

O encontro virtual na página do Republicanos no Facebook foi mediado pelo jornalista da ARCO, Maurizan Cruz, e contou com a ampla participação de parlamentares republicanos e internautas de todo o país.

A triste experiência sentida na pele pelo fato de ser negro foi o primeiro assunto abordado pelos convidados. O republicano Márcio Martinho, que está no quarto mandato na Câmara dos Deputados, contou o que viveu na sua infância em sua cidade natal, Cabo Frio, Rio de Janeiro.

“Me faltaria tempo para elencar a quantidade de discriminação que passei. Quando eu era garoto, lá em Cabo Frio, tínhamos uma vila e majoritariamente a vila era composta de negros. Do outro lado, as mansões e sempre quando íamos jogar bola ficavam os pretinhos de um lado e os garotos brancos de outro, pois não podíamos se misturar. Queríamos interagir e participar com eles, mas seus pais recomendavam que com a gente não podia. Aquilo marcava muito a cabeça da criança. Foram muitos os casos de discriminação”, contou Marinho.

Com mais de 30 anos de atuação na Polícia Militar do estado de São Paulo, a Coronel Helena, que foi a primeira mulher negra a comandar a Casa Militar e Defesa Civil do estado de São Paulo, também compartilhou um pouco do que sentiu pelo simples fato de ser negra.

“Quando era menina, estava indo para o colégio a pé e fui atacada por dois garotos brancos. Me xingaram por causa da minha cor. Nunca entendi o motivo daquela agressão. Há pouco tempo, contratei um prestador de serviço e enquanto ele instalava um equipamento me perguntou: ‘Até que horas você vai trabalhar?’ Respondi: essa é minha casa, sou dona da casa. Acho que o constrangimento que ele teve e minha resposta serena fez ele se desculpar. Acho que todas as pessoas devem reagir contra uma atitude de discriminação. Às vezes, tem que acionar os meios legais, já que a transformação cultural demora muito”, pontuou Coronel Helena.

Márcio Marinho destacou quando se percebe a discriminação por parte de uma pessoa esclarecida o motivo para reagir com indignação é maior. “Certa vez,  um agente da Polícia Rodoviária Federal ao me ver dirigindo um “carrão”, uma Pajero, ordenou: ‘Desce daí, quero saber para onde você vai. Vou lhe prender.’ Respondi: o senhor não vai me prender, pois estou correto e sei dos meus direitos. Ou seja, por causa da cor da minha pele ele me sentenciou como um bandido. Quando ele percebeu que também estava conversando com uma pessoa que tinha conhecimento, ele resolveu agir com civilidade”.

Racismo velado

O deputado Ossesio Silva disse que o racismo velado ocorre com frequência hoje em dia e contou mais uma experiência vivida por ele. “Assim que fui eleito no primeiro mandato de deputado estadual em Pernambuco, liguei para uma concessionária para alugar um carro. O rapaz foi levar o carro e ao chegar disse que queria entregar o automóvel ao deputado. Desci de camiseta e short. Era um rapaz branco. Ele disse: ‘Trouxe o carro, agora o senhor entrega para o deputado, está aqui a chave o senhor entrega para ele.’ Eu disse: não vou usar este carro por muito tempo. Ele ficou perdido, não sabia para onde ir e foi embora. Esse não foi velado, pois praticamente declarou”, confessou Ossesio.

O racismo no Brasil

Ao tratar do tema racismo no Brasil, cuja subjugação do negro pelo branco foi, desde o início, apresentada como natural, malgrado, a violência ora explícita, ora implícita, Márcio Marinho entende que o racimo é algo estrutural.

“Se pegarmos, por exemplo, antes de 1988, a gente vai ver que o negro era uma mercadoria. Tanto é que quando colocavam os negros para vender ele era tratado como mercadoria, tinha um preço. O Brasil foi o único país a conceder liberdade legal aos negros. Verdade é que nós fomos colocados na rua às margens. Nos deram a liberdade legal, mas tiram a comida, a bebida e a dormida. Ou seja, vocês não podem ficar no nosso meio. Aí se consegue ver o racismo estrutural. Nos tiraram o direito de ter acesso às escolas e ao bom trabalho”, contou Marinho.

Segundo Márcio Marinho, são muitas as desigualdades enfrentadas pelos negros. “Uma vez que o Brasil tem mais de 50% de pretos e pardos e o parlamento não representa este percentual, algo está errado. Existe, sim, o racismo estrutural. Está impregnado nas mentes das pessoas. Sou a favor das cotas não permanentes, mas num momento de correção, por exemplo. Há centenas de anos que nosso povo sofreu. Só queremos a oportunidade. Ainda hoje querem que fiquemos nos mocambos da vida. Não queremos nada de ninguém, mas entendemos que o Estado deve reconhecer o que tiram da gente”, disse.

Ossesio Silva também destacou o quanto a questão racial precisa ser discutida e enfrentada. “Nós, quando deixamos as senzalas, os troncos e fomos lançados nas ruas, deixamos de ser escravo disso, mas viramos escravos sociais. O negro sempre lutou para ascender, mas sempre enfrentou a dificuldade. São coisas centenárias que ainda perduram no dia de hoje. Para que o negro possa chegar a um patamar mais alto, ele tem que fazer duas vezes mais do que os brancos. Na eleição para deputado, muitas pessoas me diziam: desiste, você não terá condição de ganhar. Era para me desanimar”, relembrou Ossesio.

Há mais de 30 anos o estado de Pernambuco não elege um deputado federal negro. O primeiro a conseguir o feito depois dessas três décadas foi Ossesio Silva. “Tive que me dobrar em dois para me eleger. O que essa sociedade tem é medo que os negros assumam o protagonismo. O racismo é estrutural, mas na cabeça de outros é cultural, acham que negro é inferior. Como negros precisamos lutar e nos unir”, elencou.

Para a Coronel Helena, é preciso mudar a dinâmica de como a escola ensina sobre os negros.  “A narrativa é de que os negros foram escravizados pelos próprios negros na África. Essa narrativa não aborda o negro na construção do país, na cultura, na culinária e na moda e tantas outras coisas que tiveram grandes contribuições. Nosso ensino omite vultos da história que tiveram um papel importante no processo da abolição”, avaliou.

Coronel Helena destacou que desde 2003, existe uma lei que que obriga o ensino da história e cultura africana na escola, mas falta preparo para que isso aconteça na prática.

Para Márcio Marinho, quando a pessoa fala que no Brasil não existe racismo, sem querer ela está sendo racista. “Na novela, a negra pode ser protagonista, mas o salário é menor. Às vezes, os negros estão em uma direção importante de uma empresa, mas o salário é menor. Em qualquer lugar da vida neste Brasil, o negro sempre é colocado em segundo plano mesmo que tenhamos a mesma formação e o nível intelectual”, observou.

Defesa do negro no parlamento

Osssesio Silva destacou sua contribuição e do partido em favor dos negros. “Temos buscado uma participação em defesa da família, da cultura e do negro. Hoje, como o único negro da bancada de Pernambuco, tento fazer algo pelo negro. Temos um projeto na Câmara que defende que todos as peças publicitárias do governo federal tenham ao menos 10% de negros. Acredito que teremos cada vez mais negros como protagonistas”, observou.

Márcio Marinho falou de sua contribuição na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. “Se hoje se consegue ver mais negros em novelas, comerciais e peças publicitárias, isso se deu pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Agora, estamos com uma frente parlamentar, a qual sou vice-presidente, que se trata dos países do continente africano, e temos uma vertente de combate ao racismo. Essas ações na Câmara tem o objetivo de ser uma mola para impulsionar os negros em todos os espaços. A gente só pode ascender tendo uma educação de qualidade. Ela muda tudo”, disse Marinho.

Eleições Municipais 2020

Pré-candidata à Prefeitura de Rio Preto, Coronel Helena afirmou que sua pré-candidatura tem recebido amplo apoio na cidade. “Está sendo uma experiência gratificante e estou recebendo muito apoio das mulheres. As manifestações de apoio têm surgido de forma espontânea. Me coloquei à disposição porque quero mudança, pois não dá para presenciar injustiças e se acomodar com isso. Comecei aos 18 anos na Polícia Militar e galguei até o último posto, hoje quero retribuir com a população. Aderir à uma causa por ideal e desejo de fazer diferente. A política precisa de pessoas boas. Se tem algo que nunca fiz foi me omitir”, finalizou  Helena.

Assista o vídeo

Por Agência Republicana de Comunicação – ARCO

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