Íntegra do discurso do senador Marcelo Crivella na Convenção Nacional do PRB 2010

Senador Crivella fez homenagem à Dilma durante a Convenção Nacional do PRB, momento em que o partido declarou apoio à candidatura da petista

Publicado em 26/6/2010 - 00:06 Atualizado em 10/6/2020 - 07:55

As nacionalidades dependem muito da sua configuração física. Dos acidentes imprevisíveis e misteriosos da sua formação. Dos símbolos telúricos que lhe vincam a índole e a vocação. Mas não há notícias na história que nenhuma delas haja se transformado em nação culta, poderosa e rica sem a presença de seus condutores seguros e carismáticos, dos seus guias clarividentes e proféticos, de seus líderes sábios e generosos, são eles que com seu exemplo de vida nas virtudes e defeitos de seus povos são capazes de forjar uma geração, firme e viril, com olhar fito no futuro para construir com idealismo, renúncia e sacrifício a perspectiva iluminada do seu destino.

Quando nos processos da nossa evolução política mergulhamos no obscuro tempo do arbítrio que ocorre todas as vezes que, na vida dos povos, em nome da Segurança do Estado, se elimina o Direito, no meio de patriotas sinceros e bem intencionados, mas inexperientes politicamente e até ingênuos, surgem verdugos cruéis e desumanos que nos porões da ditadura extravasam suas personalidades doentias e neuróticas. Não pensam nos atentados à Pátria e nem se intimidam diante do julgamento da História. Não lhes corta, por um segundo, o frio na espinha, pelos atos que perpetram. Nem sequer lhes amarga o espírito e o coração o remorso de expor seus irmãos a usurpação moral, a tortura física e psicológica.

Quando são desprezados a generosidade cristã, o respeito ao Direito e o culto da liberdade as nações se transformam em imensos campos de concentração e as pessoas se estiolam no medo, na covardia e na mediocridade. Mas é também nesse tempo turbulento do cataclisma dos conflitos ideológicos que se forja no meio do povo os heróis e as essências mais puras das suas almas democráticas, libertárias e indomáveis, que se levantam para enfrentar, resistir e opor e ainda que com voz sufocada, rouca e cansada, clamar por justiça e liberdade.

Esta é a trajetória dos grandes líderes. Eles são supliciados antes de serem glorificados. Demóstenes sabe o preço que pagou por ter escrito a Oração da Coroa, o mais terrível libelo contra as tiranias e o liberticídio. Cícero, cuja cabeça decepada, colocada no rostro do fórum romano, continua sendo, através dos séculos, o mais veemente protesto contra os delírios da força, também padeceu. Chateaubriand e Victor Hugo foram compelidos a comungar a hóstia do ostracismo.

Mas, por que buscar em outras histórias e em outros povos, se os temos entre nós exemplos não menos nobres e nem menos belos?

Exilados foram os Andradas que nos deram a Independência. Visconde de Ouro Preto e Silveira Martins cobriram-se de honras no degredo. Ruy Barbosa e Epitácio Pessoa se avultam em dignidade e heroísmo, quando o preferiram a se acomodarem com o perjúrio da Constituição. Siqueira Campos, Washington Luís, Otávio Mangabeira, Arthur Bernardes, Juscelino, são constelações fulgurantes de civismo que, no sofrimento dos seus ideais, nos deram a lição de que todo o sacrifício é pequeno, quando celebrado com ardor no altar da Pátria.

Foi na noite escura da tortura, no submundo dos murmúrios que ninguém escuta, das lágrimas que ninguém vê, na solidão fria, no medo e na vergonha, que almas pequenas e mesquinhas, sem saber, deram o toque que faltava para compor a imagem histórica da jovem Dilma, a moldura de ouro da sua radiosa personalidade, o píncaro resplandecente da sua empolgante trajetória.

Ela resistiu aos enganos do seu tempo, o massacre desumano e cruel e foi fiel aos seus princípios sagrados. Mesmo no paroxismo da sua agonia, ela estava tranqüila com a sua consciência e intimorata no seu coração, como quem tem a intuição de que Deus faz do último o primeiro e do menor o maior quando no coração desse último e desse menor há o compromisso sagrado e inegociável de servir aos valores perenes da Pátria.

Os vilipêndios que amargurou não demoliram seu ânimo. Foi na luta dura e amarga, na caminhada da adversidade que ela aprendeu o sofrimento do povo e quanto custa o privilégio de servi-lo nas suas justas e dignas aspirações.

Quando a nação de modo solene e majestoso decide que é chegada a hora e não mais se pode postergar o momento de confiar a uma mulher os destinos da pátria, e se ergue para prestar honrosa e digna homenagem aquela que representa a resistência da nossa gente sofrida e valente e de tantas mulheres, heroínas anônimas, que nos campos e nas cidades, nos lares e nas fábricas, nas escolas e hospitais, nas artes e nas ciências, nas lutas políticas e nos esconderijos do suplício, com indelével dignidade, venceram preconceitos e injustiças e superaram mágoas e ressentimentos, para dar sua contribuição sincera e desinteressada a formação da nossa nacionalidade; e assim lhe conferir a sagrada incumbência da representação política como síntese de suas virtudes e valores e justas aspirações, concito os companheiros do Partido Republicano Brasileiro, que sempre estiveram ao lado desse governo, para que lutemos com o ímpeto dos patriotas legítimos para eleger essa dama ilustre, em cuja personalidade, encantadora, culta e harmoniosa, se engastam não só todas as delicadezas da ternura do coração feminino mas também a invencível e majestosa resistência  moral e de caráter da mulher brasileira.

*Marcelo Crivella é senador da República pelo PRB Rio de Janeiro

*Convenção Nacional do PRB em 26 de junho de 2010.

 

Veja também:

Convenção Nacional Eleições 2010

 

Reportar Erro
Send this to a friend