O que podem esperar os autistas adultos do futuro?

Artigo escrito pela deputada federal Maria Rosas (Republicanos-SP)

Publicado em 18/10/2022 - 16:36

São Paulo (SP) – Muitas pessoas cresceram sem saber que eram autistas porque não receberam o diagnóstico nos primeiros anos de vida. E hoje, quando chegam a fase adulta, estão falando sobre o assunto. Encontramos autistas adultos de vários jeitos e formas. A maioria se encontra bem, estudam, trabalham, estão casados ou solteiros. Tem também os que tiveram uma família unida ou com um passado mais difícil, os que sofreram bullying, foram abusados sexualmente. Tem os  autistas artistas, cheios de talento e com os mesmos desejos e direitos de viver uma vida plena que uma pessoa neurotípica.

No entanto, mesmo com maior conhecimento sobre o autismo nos dias atuais, paradoxalmente, ainda existe muita falta de compreensão, com julgamentos e muito preconceito. Os autistas adultos amadureceram sem saber quem são de verdade, e ainda estão buscando respostas para seus pensamentos, sentimentos e ações que nunca lhes foram explicados durante a infância e adolescência. Por isso, tenhamos paciência e respeito com os autistas e suas histórias.

Ao invés de críticas, o reforço positivo compensa muito mais. Reconheça a tentativa ou a capacidade deles em se expressarem. A comunicação é sim, um grande problema para pessoas com TEA. Por outro lado, as crianças autistas nascidas a partir de 2010 têm uma relativa vantagem em comparação a quem cresceu numa sociedade desinformada, capacitista, e pouco inclusiva.

Já para as mulheres autistas pode ser ainda mais difícil lidar com a puberdade, a menarca, a gravidez, o puerpério. Avaliar a saúde feminina por esse aspecto é sim, importante. Mulheres autistas tendem a aumentar os sintomas e os riscos para problemas de saúde. Médicos precisam saber que há maior suscetibilidade emocional e também para as dores. Os especialistas deveriam também se preocupar em como atender as diversidades. O autismo feminino precisa de mais pesquisas e validações.

A parte feminina do autismo é mais afetada por condições como ansiedade, depressão e transtornos alimentares, além de maior propensão a demonstrarem sofrimento psicológico, o que também podemos relacionar ao diagnóstico tardio. Portanto, os profissionais precisam considerar questões como as emoções e as dores exacerbadas, as questões sensoriais que podem levar a anorexia, bulimia, obesidade, o tempo longo de espera na antessala, tempo curto de consulta. Comorbidade associadas ao TEA também devem ser devidamente avaliadas com critérios precisos e específicos, considerando suas especificidades.

Na Câmara dos Deputados, defendo cerca de 35 proposições com a causa da pessoa com deficiência, como o Projeto de Lei 1.688 de 2019, no qual sou relatora. O PL estabelece um disque-denúncia nas instituições de ensino, para os casos de descumprimento da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. E ainda, o PL 4342 de 2020, que dispõe sobre a validade de documentos médicos para pessoas com autismo.

Também pude participar de vários debates para que haja mais conscientização da população e mais apoio para a criação de políticas públicas. Também propus, debate a cerca do tema “A pessoa autista e o sistema de saúde no Brasil” durante audiências públicas na Comissão de Pessoas com Deficiência da Câmara.

Nossa atitude no presente pode significar qualidade de vida dos autistas no futuro.

Foto: Douglas Gomes

*Os artigos publicados no Portal Republicanos são de responsabilidade de seus autores

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