Sula Miranda concede entrevista à Revista Transporte Mundial

Republicana é Coordenadora Nacional do PRB Transporte.

Publicado em 19/5/2014 - 00:00 Atualizado em 18/6/2020 - 10:48

Suely Brito de Miranda, a Sula Miranda, é a devotada cantora da causa dos caminhoneiros desde 1986, quando iniciou carreira no universo sertanejo urbano. São 28 anos de vivência cantando para os profissionais da estrada e, por sua dedicação, logo ganhou o título de rainha dos caminhoneiros.

Cantora, apresentadora, locutora de rádio, agora a artista se prepara para dividir ainda mais seu tempo e abraçar mais uma missão, como parlamentar. Filiada ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), há três ela assumiu a coordenadoria de transportes do partido, e agora se lança à vida pública, como pré-candidata a deputada federal.

Com a qualidade de uma pessoa que gosta de ouvir a todos, Sula Miranda tem estudado e se aprofundado na complexidade da logística de transportes nacional. Sua bandeira de luta é incentivar a aprovação das obras de infraestrutura em todos os modais, mas pretende dar incentivo à criação dos Pacam’s (Ponto de Apoio ao Caminhoneiro), em todo Brasil. Com a palavra, a eleita dos caminhoneiros:

ENTREVISTA

Revista Transporte Mundial – Como você se tornou a ‘rainha dos caminhoneiros’?

Sula Miranda – Gravei no primeiro disco uma música que falava sobre eles. Foi um sucesso imediato e a mídia começou a falar que eu era a ‘rainha do caminhoneiros’. A partir de então, o público absorveu. Hoje entendo que é uma benção na minha vida, o reconhecimento do meu trabalho.

Sula_internaRevista Transporte Mundial – O que você considera os maiores desafios para essa classe profissional?

Sula Miranda – Entendo que a péssima infraestrutura nas estradas torna o trabalho do caminhoneiro complicado. O motorista fica quase 20 dias na estrada, e grande parte desse tempo sequer consegue tomar um simples banho. O desafio de enfrentar as condições sub-humanas nas estradas me deixa preocupada e sensibilizada.

Revista Transporte Mundial – De quem partiu a iniciativa de seu ingresso na política?

Sula Miranda – Fui convidada pelo presidente nacional do PRB, Marcos Pereira. Havia me filiado com a intenção de conhecer a política e acabei gostando. Entrei no partido pelo PRB Mulher e a partir daí, pensei em atuar na área em que estou familiarizada. No entanto, me coloquei também à disposição para fazer campanhas para os caminhoneiros, foi quando veio o convite para assumir o PRB Transporte. Um enorme desafio, mas muito estimulador, por isso, não resisti.

Revista Transporte Mundial – Com o que você se identifica no PRB?

Sula Miranda – O PRB é um partido jovem e com personalidade. É formado por pessoas comprometidas com a atuação na gestão transparente e coerente, de acordo com meus princípios. Por isso, acredito que dentro do PRB poderei fazer algo de concreto para o setor que pretendo representar junto ao poder legislativo.

Revista Transporte Mundial – Quando você passou a atuar como coordenadora dos transportes na legenda e se deparou com a complexidade do tema, qual foi sua reação?

Sula Miranda – Já rodei muito pelas estradas do Brasil. Observei e vivi experiências das mais variadas e sofri na pele as limitações do interior do país. Mas ao assumir a pasta, procurei me cercar de pessoas que fossem melhores do que eu nas suas áreas. Assim, hoje posso dizer que temos uma equipe formada por pessoas atuantes em todos os modais, com muita experiência e visão detalhada dos problemas do nosso país. Não tenho a pretensão de querer ser a expert de todos os assuntos, mas de querer reunir todas as necessidades e lutar por cada uma delas no sentido de mudar o cenário de uma país, que por muitos anos viveu sem planejamento de longo prazo. E o resultado disso foi um investimento equivocado há 50 anos em estradas, incentivadas pela indústria automobilística, perdendo a chance de investir em uma malha ferroviária e fluvial em tempo. Hoje vivemos perto do apagão logístico, os portos com pouca capacidade de receber nossa produção, enfim, quero a visão de longo prazo pelas próximas gerações.

Revista Transporte Mundial – Você está estudando as particularidades dos modais?

Sula Miranda – Sim, como já disse cada modal deve ser visto de forma a se integrar uma ao outro, com o objetivo de poder diminuir o custo Brasil. Hoje o foco ainda é o transporte rodoviário,  mas se criarmos um plano de ação que vise a integração entre os modais, acredito que podemos reduzir sensivelmente os custos dos produtos finais, além de gerar benefícios importantes ao meio ambiente. Temos uma divisão por modais da ordem de 4% para dutoviário, 11% de aquaviários, 22% de ferroviário e 63% para o rodoviário. Fica clara a necessidade de dar foco a programas que incentivem os investimentos no setor ferroviário. Em 2012 o governo lançou um projeto para melhorar a malha ferroviária, porém sem sucesso ainda. A iniciativa privada propõe linhas diferentes das planejadas e, nesse impasse, o Brasil continua mais caro. Temos muito o que fazer pelo setor.

InternaRevista Transporte Mundial – Os problemas nos transportes são mais desafiadores no restante do país do que em São Paulo, onde se encontram as melhores estradas.

Sula Miranda – Ao longo dos anos, pude perceber que os gargalos nas estradas aumentaram, assim como o desafio para o caminhoneiro. Ninguém fez, digo com absoluta certeza, nada em favor dessa classe. Por causa desses problemas não resolvidos, entendo que não posso ter uma vida exclusiva de São Paulo. Ao atuar no plano federal posso propor soluções para todos os Estados. As melhores estradas e ferrovias estão concentradas na Região Sudeste, reflexo da capacidade de investimento de cada Estado, mas acredito que é possível melhorar em todo país.

Revista Transporte Mundial – Você já tem uma bandeira de luta? Qual é a sua plataforma política?

Sula Miranda – Minha bandeira de luta é melhorar as condições de trabalho do transportador. Seja ele autônomo ou o motorista que trabalha em empresas transportadoras. A maior preocupação será atuar no crescimento e melhoria dos modais que permitam ao Brasil tornar-se mais competitivo. A cadeia logística nacional é carente de um planejamento integrado. Percebo que há muitas ideias excelentes, porém ficam isoladas por interesses de determinados setores, que acabam não se integrando. Quero ser uma política atuante e aglutinadora dessas soluções.

Revista Transporte Mundial – Você já tem noção sobre os gargalos de escoamento da produção e as dificuldades no acesso aos portos? Em Santos, por exemplo, os motoristas de caminhões ficam presos a filas quilométricas por dias na época das safras.

Sula Miranda – Sim, vejo os problemas. Na verdade, apesar de os portos estarem subdimensionados para os números de produção recordes de grãos, entre outros produtos, é preciso ter um olhar mais crítico e cuidadoso ao tentar colocar o problema somente nos portos. A Região do Mato Grosso tem deficiência de silos que possam ser utilizados no armazenamento antes do escoamento da produção. O fazendeiro coloca toda sua produção em cima dos caminhões e dispara de forma aleatória para os portos, causando o problema das filas, que geram um alto custo com os caminhões parados. Entendo que é preciso dar atenção ao começo da cadeia produtiva. Ao gerar condição para organizar a saída ordenada dos caminhões, por exemplo, é possível praticar o agendamento de carga e descarga nos portos e evitar filas. São ideias e atitudes simples de serem resolvidas. Basta ter vontade política. Se eleita, pretendo ficar ainda mais próxima do cidadão.

Revista Transporte Mundial – Você tem conhecimento sobre o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) nos transportes?

Sula Miranda – Sim. E tenho acompanhado com mais ênfase os desdobramentos dessa iniciativa. É sabido que o Brasil tem diversas frentes de desenvolvimento, obras de infraestrutura nas estradas, com duplicações, investimentos para a construção e reconstrução das ferrovias e aumento e agilidade dos portos. Mas tudo com certa lentidão, e é preciso acelerar. Sei que a má vontade política e a burocracia não deixam o país viver o que propõe o PAC. Como podemos acelerar o crescimento, se o tempo todo o sistema freia as iniciativas tanto  do próprio governo como da iniciativa privada, somos muito burocráticos , precisamos destravar nosso Brasil.

Revista Transporte Mundial – Como você vai conciliar sua vida de locutora, apresentadora, cantora, parlamentar e de mãe de família?

Sula Miranda – Como sempre conduzi tudo. Com muita disciplina, determinação, foco e vontade de fazer diferente. A família é a base, ser mãe é o que me inspira a contribuir por um país melhor para as futuras gerações.

Sula_paginaRevista Transporte Mundial – Você foi recebida recentemente pelo secretário Jorge Messias, do MEC (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior). Como foi esse encontro?

Sula Miranda – Esse encontro foi muito bom, uma oportunidade para apresentar a nossa proposta de lutar pela criação de uma Faculdade Pública dos Transportes em nosso país. Essa instituição ofereceria cursos superiores e técnicos na área de transportes, considerando os crescentes e graves problemas de mobilidade. Além disso, poderíamos incentivar, ainda, a oferta de educação média e superior à distância para os caminhoneiros, criando polos de Apoio Presencial ao longo das rodovias. Esses polos seriam adequadamente equipados para atender às exigências da legislação nessa área.

Acredito também que a responsabilidade social de criação dessa instituição de ensino é uma forma de devolver à sociedade cidadãos mais preparados com respeito à educação no trânsito. Outro propósito é trabalhar para criação de lei que obrigue a inclusão na grade curricular, de todos os cursos da educação infantil, básica, técnica e superior, a educação no trânsito, nos moldes do que está sendo feito com a educação ambiental. Uma Escola de Motorista, conveniada ao Detran, também poderia cumprir o papel de fazer a reciclagem de habilitação de motoristas profissionais.

Revista Transporte Mundial –  Qual é seu recado para os caminhoneiros, o que eles podem esperar de você?

Sula Miranda – Não posso negar que o caminhão e o trabalho de quem dirige esse veiculo são as minhas paixões. Tenho essa posição hoje graças aos caminhoneiros. Por isso , quero retribuir e meu compromisso é de buscar melhorias de infraestrutura para a classe principalmente nas estradas. E para isso estou mobilizada. Faço parte do Pacam, Ponto de Apoio ao Caminhoneiro. É um projeto que vejo com carinho e paixão, pois tem o objetivo de criar um ambiente merecedor de quem cruza o Brasil, carregando nossas riquezas, levando tudo que está à nossa volta e facilitando a vida de todos os brasileiros.

 Por Marcos Vilela – Revista Transporte Mundial

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