Cristiane Britto defende medidas para frear o aumento das agressões
Publicado em 8/6/2020 - 17:50
Brasília (DF) – O aumento do número de denúncias de violência contra as mulheres tem mobilizado governo, empresas e organizações da sociedade civil a ajudar na busca por socorro em caso de violência doméstica nesses tempos de pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Isoladas em casa e, na maioria das vezes, tendo de conviver com o agressor, um número crescente de brasileiras está sendo vítima de abuso doméstico durante o distanciamento social. É o que mostra os dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), divulgados no dia 29 de maio.
Em abril, quando o isolamento social imposto pela pandemia já durava mais de um mês, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019. Em março, com a quarentena começando a partir da última semana do mês, o número de denúncias tinha avançado quase 18% e, em fevereiro, 13,5%, na mesma base de comparação.
De acordo com a apresentação da pasta, o Ligue 180 registrou um total de 1,3 milhão de atendimentos telefônicos. Desse número, 6,5% foram denúncias. Já 47,91%, solicitação de informações sobre a rede de proteção e direitos das mulheres. Os outros 45,59% foram manifestações, como elogios, sugestões, reclamações ou trotes.
Na comparação com o número de denúncias registradas em relação ao número de ligações atendidas, o percentual de denúncias de 2019 é superior ao registrado no ano de 2018.
Faixa etária
Segundo o balanço 2019 do Ligue 180, o crime de violência sexual é mais recorrente entre mulheres com idade entre 15 e 24 anos
A secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Cristiane Britto (Republicanos), vê os dados com preocupação e destaca que o combate ao feminicídio é prioridade da pasta.
“Os dados revelam um processo de escalada da violência, que precisa ser interrompido. Diante dos dados, da segurança pública e das manchetes estarrecedoras que estampam diversos casos, a SNPM resolveu focar suas ações no combate ao feminicídio”, disse.
Cristiane Britto elenca as medidas que estão sendo tomadas emergencialmente durante o período de pandemia do novo coronavírus.
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“O primeiro passo foi sanar pendências acumuladas ao longo dos últimos anos, como falta de prestação de contas de diversos convênios, programas já distantes da realidade do país e a completa falta de articulação com a rede”, esclareceu.
Outra ação destacada pela gestora foi a reformulação do decreto que trata da Casa da Mulher Brasileira (CMB), que permitiu levar o projeto para o interior do país, com custo mais baixo e flexibilização na aplicação.
Entre aquelas que tratam dos desdobramentos da pandemia para a população feminina, estão a publicação de cartilhas e materiais informativos durante o período, além de orientações técnicas para a rede de acolhimento e proteção à mulher.
A gestora destacou, ainda, as medidas para conter o aumento do número de casos subnotificados, já que, na fase de distanciamento social, as mulheres estão em casa convivendo 100% do tempo com o agressor, o que dificulta, ainda mais, a ida até uma delegacia.
“Trabalhamos de forma intensa na disseminação de informações de utilidade pública e incentivando a denúncia através do 180. Publicamos cartilhas, material para condomínios que estimulam a vigilância solidária entre os vizinhos e sensibilização sobre a importância da denúncia em casos de violência doméstica no contexto de confinamento. Promovemos ações nas redes sociais e campanhas de rádio e TV”, disse.
Vigilância Solidária
O projeto Vigilância Solidária tem o objetivo de sensibilizar vizinhos para o combate à violência contra a mulher e conta com o apoio de organizações como a Confederação Nacional dos Síndicos e a Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais.
O que é o Ligue 180
Criada pela Lei 10.714/2003, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um dos canais de atendimento da ONDH e o principal canal entre a população e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
É um serviço de utilidade pública de abrangência nacional, que pode ser acionado pelo número “180”, gratuitamente, 24 horas por dia, todos os dias, por celular ou telefone fixo. O Ligue 180 oferece atendimento confidencial e qualificado por uma equipe formada somente por mulheres.
O Ligue 180 registra denúncias de violações dos direitos das mulheres, encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. Também tem a função de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento.
Os serviços do Ligue 180 também estão disponíveis para mulheres que residem no exterior. No ano passado, foram feitos 35 atendimentos a brasileiras vítimas de violência. O número representa uma queda de quase 3% comparado ao balanço de 2018, que registrou 36 ligações.
Os atendimentos são realizados em português, inglês ou espanhol e abrangem 16 países: Portugal, Espanha, Itália, Argentina, Bélgica, EUA, França, Guiana Francesa, Holanda, Inglaterra, Luxemburgo, Noruega, Paraguai, Suíça, Uruguai e Venezuela.
Códigos secretos
Diante da dificuldade das vítimas de pedir socorro, surgem iniciativas de canais silenciosos de denúncias. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) planeja lançar a campanha “Sinal vermelho contra a violência doméstica”. A iniciativa já existe em outros países e agora começa a funcionar no Brasil. A mulher vítima de violência mostra a palma da mão marcada com um X vermelho feito de batom ou outro material ao atendente de uma farmácia cadastrada, que aciona a Polícia Militar para socorrê-la.
Empresas também estão dando prioridade às campanhas na internet de denúncias veladas, necessárias quando a mulher convive com o agressor.
Por Agência Republicana de Comunicação (ARCO)
Foto destaque: Marcos Santos / Agência Brasil