Em artigo, Carlos Geraldo relata a crise enfrentada pelos sertanejos
Publicado em 14/10/2015 - 00:00
Atualizado em 5/6/2020 - 14:58
Muito se escreve sobre as crises política e econômica que assombram o país. No entanto, pouco se fala sobre aqueles que vivem uma crise desde sempre, quiçá não seja para sempre. Machado de Assis dizia que no Brasil há dois países: o oficial e o real. Ou seja, aquele que apresenta um emblema e aquele que é. Mais de um século depois, o pensamento machadiano, realidade de sua época, é tão evidente como outrora.
Euclides da Cunha delineou que não seria possível entender o Brasil sem passar pelas categorias de litoral e sertão. Isto é, sem aperceber a distância entre abundância e escassez. Esse mesmo Sertão, já disse alguém certa vez, é a grande metáfora do Brasil. Lugar de miséria, fome e dor. Lugar onde a democracia não chegou. Concomitantemente, mesmo concebido como lugar do atraso econômico e social, é também lugar de gente valente capaz de resistir às maiores penúrias.
Tal sofrimento nos faz refletir sobre que tipo de crise estamos vivendo sendo esta já vivida, por gente como a gente, há bastante tempo. A comida que aperta a barriga dentro das casas, nos grandes centros urbanos, os números que atormentam os intelectuais, a crise desenhada pelos percentuais, já potencializa o sofrimento do sertanejo há séculos nesse país, ao qual lhe resta apenas um palmo de terra debaixo da terra. É preciso refletir e, acima de tudo, agir na ferida do Brasil. Daqueles que desde sempre sofrem com o descaso e abandono.
Olhar para o Brasil, como dizem por aí, é ouvir os gritos de quem clama há mais tempo, certos de que não há dois Brasis, mas um que há muito chora.
*Carlos Geraldo é presidente licenciado do PRB Pernambuco