“Quem salva uma vida, salva o mundo”, diz Roberto Sales sobre a doação de órgãos

Na entrevista da semana, o parlamentar fala do primeiro ano de mandato, história de vida e a defensa pela ampliação da doação de órgãos no Brasil

Publicado em 21/3/2016 - 00:00 Atualizado em 9/6/2020 - 17:55

Na entrevista desta semana vamos conhecer uma história de superação, força de vontade para mudar a realidade difícil e sobre um mandato dedicado a melhorar a vida das pessoas, principalmente, as que sofrem na fila de espera por um transplante.

Quem vai nos contar essa história é o deputado federal Roberto Sales (PRB-RJ). Ele foi candidato a vereador em 2012 em São Gonçalo, secretário municipal de Pesca e eleito para o primeiro mandato para a Câmara dos Deputados em 2014, com mais de 120 mil votos. Desde sua posse, já apresentou mais de 50 projetos de lei e atualmente ocupa a presidência da Frente Parlamentar de Incentivo à Captação e Doação de Órgãos.

 

ENTREVISTA

Agência PRB Nacional – Conte-nos como o senhor avalia seu primeiro ano de mandato como deputado federal.

Roberto Sales – Quando chequei, percebi que não era fácil apresentar projetos, tampouco aprovar uma lei. Só para você entender do que estou falando, das 50 ideias de projetos que eu tive, mais de 30 foram recusados pela área jurídica. Contudo, no primeiro ano eu consegui apresentar 19 Projetos de Lei. Da bancada do PRB eu fui o que mais apresentou projetos em 2015. De janeiro para cá, eu já protocolei 16 propostas que estão na Consultoria Legislativa esperando pelo parecer. Estou aqui com sede e vontade de mudar, mas a própria burocracia impede e a gente não pode desistir. Estou pensando nas próximas gerações e no futuro do jovem. Por exemplo, nós temos um projeto que acabou se tornando um requerimento de indicação à Previdência Social para incentivar as campanhas de cadastro da juventude no INSS. Se aos 16 anos ele pode se registrar como autônomo, que faça e gere receita para Previdência. Outras propostas insistem na ampliação da área de pesquisas no Brasil. O governo investe pouco em pesquisas nas universidades. Eu estive em Israel no ano passado e lá eu vi que o país investe R$ 18 milhões ao ano no setor, sendo que 30% desse valor são investidos nas universidades públicas, entre elas a Universidade Hebraica. Veja onde estão os maiores startups do mundo. Inúmeras patentes foram registradas no ano passado em Israel. Tem Nobel da Paz e outros tipos de reconhecimento, por que isso? Eles investem em pesquisa. Aí eu pergunto: daqui para frente o governo brasileiro vai investir em pesquisas para as novas gerações? Além disso, também apresentei dois projetos que visam melhorar as condições de vida do povo sem agredir o meio ambiente. Um consiste em criar um sistema de captação da água da chuva em prédios públicos e a outra tem como objetivo incentivar à produção de energia solar em todo país.

 

Agência PRB Nacional – Diante da sua história de vida, o que esse mandato de deputado federal representa?

Roberto Sales – Na verdade, eu vejo meu mandato como uma concretização dos sonhos do meu pai. Pessoa que me doou o rim e me permitiu nascer novamente. Eu sempre admirei muito a forma honesta e transparente com que meu pai atuou na política. Não tenho nenhuma dúvida de que o meu mandato se faz em razão dele. Eu vejo que muitos anos da minha vida política foram abreviados: imagine se eu fosse vereador por dois ou três mandatos e deputado estadual por mais dois mandatos. Então, muitos anos da minha vida política foram abreviados porque percebo que Deus conta comigo e a população do Estado do Rio de Janeiro também. Eu enxergo dessa forma. Você pode dizer: mas são 513 deputados federais.  No entanto, se eu fizer minha parte, se me empenhar, for aguerrido, conseguir ajudar essas pessoas que estão fazendo hemodiálise, se eu conseguir salvar a vida de algumas dessas pessoas, melhorar o sistema de doação de órgãos no Brasil e a vida do pescador, então estou concretizando a vontade de Deus, do povo e do meu pai.

 

Agência PRB Nacional – Entre os 19 projetos apresentados pelo senhor que tramitam na Câmara, pode destacar alguns?

Roberto Sales – Apresentamos projetos que oferecem descontos na conta de energia para as usinas de dessalinização de água do mar, da mesma forma que o agricultor já tem. Se a produtor rural tem uma bomba de captação de água funcionando, ele tem desconto em 75% na conta. A gente nunca pensou que poderia passar por uma crise hídrica, mas passamos e sofremos com ela. Então se a minha visão é para as próximas gerações, tenho a obrigação de pensar na questão da sustentabilidade. Com relação ao pescador, pedimos para incluir no Ministério da Pesca, que agora está vinculado ao Ministério da Agricultura, o Programa Nacional de Saúde do Pescador. Eu criei esse programa em São Gonçalo (RJ) quando era secretário municipal. À época, solicitei para um deputado estadual e conseguimos implementar no estado. Diante disso, só faltava no âmbito federal. Eu fiz essa indicação para que o Ministério da Saúde em parceria com o da Agricultura para criar ações voltados para saúde do pescador. O homem já não gosta de ir ao médico, já tem aquela rejeição de consultório, ainda mais sendo um pescador que não pode parar o dia de trabalho para ir ao centro da cidade se consultar. Na verdade, a maioria dos pescadores só vão ao médico quando não tem mais jeito ou estão passando mal. Foram vários projetos em 2015. Apresentamos uma proposta para incluir nos prédios públicos sistemas de captação de água de chuva. Se nós queremos que a população realize essas ações, temos que dar o bom exemplo. Fizemos um projeto, também, visando alterar a legislação de trânsito para garantir que quem provocar acidente com morte, perca o veículo em indenização à vítima. Essa proposta, assim como a de dessalinização, foram aprovadas em duas comissões.

 

Agência PRB Nacional – Como tem sido o trabalho na presidência da Frente Parlamentar de Incentivo à Captação e Doação de Órgãos? 

Roberto Sales – A Frente Parlamentar é composta por deputados de todas as regiões do Brasil e estamos todos motivados a dar nossa contribuição ao sistema de doação de órgãos no Brasil. Nós já estamos preparando uma programação anual das atividades da frente. Protocolamos requerimento da Comissão de Seguridade Social pedindo autorização para realizar audiências públicas e visitações aos principais hospitais que realizam transplante. Queremos conhecer as estruturas e fazer esse levantamento completo. Na visita, já levaremos os dados dos recursos que foram repassados para a instituição. Vamos saber o que foi para transplante, medicamento e hemodiálise. Com isso em mãos, teremos condições de comparar e saber se as secretarias estaduais e municipais estão de fato repassado as verbas que governo federal autorizou. Será uma fiscalização, como também será um momento de recebermos propostas do próprio hospital. Pretendemos, na mesma visita, receber representantes das entidades de transplantados e clínicas de hemodiálise, para conhecer as demandas e denúncias dessas pessoas. Acredito que dessa atividade vão surgir vários temas, propostas que vão ajudar a melhorar as condições de atendimento e todo o sistema de doação de órgãos.

Estamos planejando essas atividades, mas em 2015, eu já visitei o Hospital de Bom Sucesso no Rio de Janeiro, ocasião em que os médicos solicitaram a renovação do contrato com o SUS para realização de cirurgias. A própria médica que fez minha cirurgia do Hospital São Francisco de Assis solicitou o retorno da normalidade dos transplantes. Estive também no Sistema Nacional de Transplantes, lá fui muito bem recebido pela coordenadora e ela explicou muito bem como funciona tudo, inclusive, me informou que não há limite de investimento do governo federal quando o assunto é transplante, basta saber quantas cirurgias o hospital tem condição de fazer por mês. Além disso, temos planos para visitar outros países, onde a realização de transplante é vista como de primeiro mundo. Vamos conhecer os tratamentos alternativos, o que estão desenvolvendo na Alemanha, que é referência mundial em transplante. Em Israel, queremos saber o que estão desenvolvendo lá na questão de medicamentos. Hoje eu tomo medicamentos sem muitos efeitos colaterais, mas no passado não era assim. E se existir outros tipos de medicamentos? Será que já tem um laboratório ou alguma universidade fazendo pesquisas sobre novos remédios para esses pacientes? São muitas as informações que precisamos conhecer. Temos muito trabalho pela frente e esperamos atingir nossos objetivos, e é claro, fazer com que a nossa atuação seja vista pela população e reconhecida de alguma forma. Porém, o principal objetivo é salvar as pessoas, como foi dito no lançamento da Frente Parlamentar: quem salva uma vida, salva o mundo! Toda a nossa equipe está envolvida nesse projeto, a estrutura é pequena, temos que contar com os funcionários do gabinete. Além de contar com a boa vontade dos nossos colaboradores para colocar em prática esse planejamento anual.

 

Agência PRB Nacional – Deputado, vamos falar um pouco da sua história de vida. Como foi a sua infância na cidade de São Gonçalo?

Roberto Sales – Eu tive uma infância muito difícil. Meu pai ficou desempregado e faltava quase tudo em casa. Como eu estudava na rede pública e lá também não tinha merenda escolar, a situação ficava mais difícil do que já era. Como não comia direito em casa, tinha de ficar com fome na escola também. Não tem como aprender com o estômago doendo de fome. Dos meus cinco aos 16 anos tive de conviver com a fome, foram mais de 9 anos de total restrição alimentar. Além disso, eu sofri muito com desentendimentos na família. Meus pais viviam brigando o tempo todo e isso trazia muita instabilidade, mas mesmo assim, eu sempre acreditei no futuro melhor. Dediquei meu tempo aos estudos com o objetivo de tirar boas notas na escola e ter uma vida melhor. Quando eu estava no ensino médio, consegui arrumar um emprego de garçom. Eu queria juntar dinheiro para pagar minha faculdade, mas o restaurante que eu trabalhava na Universidade Rural foi fechado. Todos foram dispensados e mais uma vez eu vi minha esperança cair por terra. Na época, o vestibular já era muito concorrido e eu não tinha condições de fazer um curso preparatório. Então, foi nesse momento que eu comecei a trabalhar nesse sentindo até o ponto de terminar o ensino médio e entrar numa faculdade privada, sendo bolsista. Mas não foi nada fácil. Para fazer a matrícula, meu pai pediu ajuda aos amigos para pagar os dois primeiros meses do curso de administração, mas mesmo assim não dava. Tive que vender laranjinha no semáforo para pagar a mensalidade. No verão, durante os meses de abril e maio, dava para pagar com o dinheiro que eu ganhava, mas depois veio inverno e a laranjinha no sinal não deu mais certo e tive que trancar a matrícula no segundo semestre. Fui obrigado a sair da faculdade e ficar muitos anos aguardando uma oportunidade para retornar aos estudos.

 

Agência PRB Nacional – Diante das dificuldades enfrentadas, imagino que teve que começar a trabalhar muito cedo, não foi?

Roberto Sales – Sim, com certeza. Aos 12 anos de idade já comecei a trabalhar como jardineiro, fui lavador de carros e servente de pedreiro. Nunca fiquei parado vendo a vida passar diante dos meus olhos sem fazer nada. Sempre fui aquele rapaz que viu no sofrimento dos meus pais a motivação para reagir. Eu me perguntava porque estava vivendo aquela vida. Questionava que não era possível, que eu não tinha nenhuma oportunidade para tirar meus pais daquela situação e viver uma vida mais digna e feliz.

 

Agência PRB Nacional – Conseguiu alguma resposta? Quando foi que a situação melhorou?

Roberto Sales – Eu segui um outro rumo na minha vida. Encontrei na fé a força que precisava para vencer. A partir desse momento, as oportunidades foram surgindo uma atrás da outra. Foi tudo muito rápido. O passado ficou na memória e hoje vejo que foi uma experiência válida para que eu pudesse ter mais fé em Deus. As coisas começaram a mudar quando eu completei 18 anos. Fui contratado por uma empresa de construção civil e a partir daí comecei a ter condições de tirar meus pais do aluguel e melhorar a vida deles. Como eu era solteiro, comprei um terreno e comecei a construir uma casa para eles, mas não consegui terminar a casa. No entanto, vendo meu exemplo de realização e conquistas, meus pais acabaram conseguindo terminar a casa.

 

Agência PRB Nacional – Quando veio o despertar para a política?

Roberto Sales – Desde criança, eu acompanhava meu pai na campanha do Brizola no Rio de Janeiro. Eu sempre vi meu pai trabalhando da maneira honesta, nunca se deixando corromper e se deixar levar pelas facilidades que a política pode trazer. Então, acompanhando aquilo, ao mesmo tempo que eu me sentia motivado, batia um desânimo muito grande também. Meu pai sempre trabalhou muito em benefício das pessoas, mas mesmo assim não conseguia ter êxito sendo eleito, por exemplo, vereador, ou tendo algum tipo de retorno positivo daquele trabalho que ele desenvolvia tão bem. Isso acabou, de certa maneira, a partir da minha adolescência, me distanciando da política. Foi somente aos 23 anos que a ficha caiu. Eu vi que se a gente quiser, a gente consegue ajudar muitas pessoas por meio da política. É assim com um Projeto de Lei, na criação de políticas públicas e outras ações. A gente tem como, na política, ajudar muito mais pessoas do que somente sendo um cidadão comum e tendo a sua responsabilidade social. Todo cidadão deveria ter essa responsabilidade de ajudar o próximo de alguma forma. Na política, eu enxerguei isso. Eu vi que consigo alcançar mais pessoas tendo um mandato, enfim, com uma atividade política. Foi nesse momento, nessa reflexão que eu decidi entrar para vida pública. Eu sempre tive aquele objetivo de ajudar, coordenar a campanha de algum candidato. Foi quando o Crivella veio a primeira vez para senador da República em 2002. Eu fui coordenador dele na cidade de São Gonçalo. Na época eu era filiado ao PDT, o mesmo do meu pai. O Crivella foi eleito pelo PL e somente em 2005, surgiu o PRB. Lembro que nos anos de 2004 e 2005, passamos o tempo todo recolhendo assinaturas nas ruas para criação do PRB. Mas somente em 2011 eu senti que era o momento de entrar de vez na política. Me candidatei a vereador em São Gonçalo, obtive 4.044 votos. Na época, a coligação inteira foi impugnado por não atender o número mínimo de mulheres. Perdemos muitos votos nas ruas, não fomos eleitos por menos de 200 votos. Recorremos da decisão e conseguimos reverter, mas os candidatos perderam o ritmo da campanha. Depois do período eleitoral, o prefeito eleito me convidou para ser secretário de Pesca.

 

Agência PRB Nacional – Como foi a experiência na Secretaria de Pesca?

Roberto Sales – Foi quando de fato eu mergulhei na atividade pública, fiquei um ano e quatro meses no cargo. Só saí para a eleição de deputado federal em 2014. No cargo, realizamos vacinação dos pescadores contra a gripe, levamos diversos programas do governo federal para a cidade, fizemos ações conjuntas com a secretaria de Saúde do município para promover palestras sobre saúde do pescador. Tive o privilégio de vir à Brasília, no Ministério da Pesca, assinar um protocolo de intenções para construção do Mercado do Peixe em São Gonçalo. O projeto foi implementado para agregar valor ao pescado e ao trabalho dos pescadores. Com esse e os demais projetos que executamos no município, tive muito reconhecimento, não somente em São Gonçalo, mas também em Niterói e em outras cidades próximas. Fui convidado pelo partido para me candidatar a deputado federal. Eu não imaginava sair candidato, meu pensamento era continuar na secretaria de pesca e concorrer para vereador, mas não há nada que aconteça sem a permissão de Deus. Ele me quis aqui em Brasília. A disputa foi bem acirrada e eu concorri com grandes nomes da política do Rio de Janeiro. Para minha felicidade, o povo entendeu minha mensagem e deu 124 mil votos, grande maioria dessa votação veio dos pescadores e familiares e da defesa pela doação de órgãos. Sou transplantado, fiz a cirurgia em janeiro de 2011. O problema apresentado foi pressão alta, passei muito tempo com esse problema sem saber e quando fui perceber, os rins já estavam debilitados. Para cumprir minha proposta na eleição, hoje tenho uma atuação firme aqui na Câmara para melhorar o sistema de doação de órgãos brasileiro e lançamos no final do ano passado a Frente Parlamentar de Incentivo à Captação e Doação de Órgãos.

 

Agência PRB Nacional – Qual a mensagem que o senhor deixa para os republicanos e para a população do Rio de Janeiro?

Roberto Sales – Eu quero dizer para todas as pessoas que escolheram o PRB para fazer o bem, que elas estão no partido certo. Desde que você queira ajudar o próximo e fazer a diferença na vida das pessoas, o PRB é o lugar correto. No partido, o republicano tem voz. Você pede a palavra e tem oportunidade para expressar seu pensamento e as ideias para melhorar a sua cidade. Digo sem medo que o PRB é o partido para quem tem o desejo de transformar a comunidade onde vive, num lugar melhor. Você está motivado a promover a verdadeira mudança na sua cidade, no seu estado e no seu país? Venha para o PRB colocar tudo isso em prática. O nosso partido dá oportunidade e cumpre acordos. Você militante, filiado, tenha confiança no projeto do 10 e faça a diferença na política. Desejo que você tenha sucesso no PRB como filiado, vereador, prefeito, deputado, não importa. O importante é de alguma forma servir à população. O objetivo de um republicano deve ser sempre servir ao povo da melhor maneira possível. Venha fazer a boa política no PRB.

 

Por Maurizan Cruz / Ascom – Liderança do PRB
Foto: Roberto Ribeiro

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