O direito ao “Banho de Loja”

Artigo escrito por Tia Ju, deputada estadual pelo PRB Rio de Janeiro

Publicado em 27/9/2017 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 12:21

No último domingo, dia 24, o prefeito Marcelo Crivella, do PRB, se manifestou sobre o que vem acontecendo na Rocinha e fez um comentário que, de pronto, foi elevado a categoria de julgamento de valor por parte da mídia, sem se levar em consideração a essência da fala do Prefeito.

Crivella, como se sabe é chefe do Executivo municipal, o que não lhe impõe direito, e tampouco a responsabilidade, de atuar na área da segurança pública. Mesmo assim, há um mês ele sancionou uma lei que dá à Guarda Municipal a missão de patrulhamento urbano, além da função primária de proteção ao patrimônio público. Entre outras ações, a GM pode fazer o policiamento nas ruas desenvolvendo um trabalho preventivo ou mesmo na repressão se houver uma resistência ou se identificar um produto roubado na mão de ambulante que não tem licença para vender.

Ao colaborar com a segurança pública da cidade do Rio de Janeiro, o prefeito se coloca, de forma voluntária, como alguém preocupado com o futuro do Rio. Ou como diz seu principal lema, alguém que quer “cuidar das pessoas”.

Já ao dizer que “é hora de aproveitar o momento para fazermos um banho de loja na Rocinha”, o prefeito está apenas reconhecendo um direito dos moradores daquele bairro.

Sim, a Rocinha passou a ser considerada um bairro e foi delimitada pela Lei nº 1 995 de 18 de junho de 1993, com alterações nos limites dos bairros da Gávea, Vidigal e São Conrado.

Porém, ao ser palco de conflitos, a localidade vê renascer os esteriótipos mais negativos, como “lugar de bandidos”. Com mais de 70 mil moradores, a comunidade teve origem na divisão em chácaras da antiga Fazenda Quebra-cangalha, produtora de café e na década de 1930, se tornou um centro fornecedor de hortaliças para a feira da Praça Santos Dumont, na Gávea, que abastecia a Zona Sul da cidade. Aos moradores mais curiosos sobre a origem dos produtos, os vendedores informavam que provinham de uma “rocinha” instalada no alto do bairro da Gávea.

O fato é que existe preconceito com favela, comunidade, bairros carentes e qualquer outro nome que se dê a locais que hoje estão conflagrados pela violência urbana, sem levar em consideração que a grande maioria das pessoas que ali residem são honestas, trabalhadoras, honradas e, acima de tudo, cidadãos!

Cidadãos estes que como moradores da cidade do Rio de Janeiro têm o direito de verem garantidos os serviços públicos essenciais e básicos como saúde e educação, bem como tem direito também ao “banho de loja”.

O direito de morar em um lugar onde a pessoa tenha orgulho, onde consiga ver suas raízes identitárias respeitadas é mais que um desejo, é uma necessidade. Quando este morador é estereotipado e dele são tirados estes adjetivos, o que se vê é um afetamento no seu sentimento. Ser morador de um bairro, de uma comunidade, ter orgulho deste local, está muito além do que visões elitistas podem pensar. Esta construção se dá pelas relações sociais, práticas de consumo, comportamento, modo de vestir, de pensar, de falar.

Por isso, não só apenas de serviços essenciais viverá o morador da Rocinha, do Jacaré, da Maré, do Juramento, do Cantagalo, da Mangueira, do Alemão ou de qualquer outra comunidade.

Viverá de ver seu bairro ser reconhecido, de ter orgulho do seu bairro e de ver seu bairro levar um “banho de loja” com boa iluminação, pintura, reforma de praças, criação de espaços de lazer, e a reformulação, sem a perda do jeito de ser, do universo tão depreciado por uma falta de reconhecimento e, porque não dizer, de um preconceito com os moradores de lá.

Que venham muitos “banhos de loja” em todas as comunidades da nossa cidade do Rio de Janeiro!

*Tia Ju é deputada estadual pelo PRB Rio de Janeiro

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