A imprensa e a democracia moderna

Artigo escrito por George Hilton, deputado federal, líder do PRB na Câmara dos Deputados e presidente do PRB Minas Gerais

Publicado em 18/3/2013 - 00:00 Atualizado em 8/6/2020 - 09:16

O Brasil, em 2012, ingressou em um ranking que lista os 10 países que mais retrocederam em termos de liberdade de imprensa. Nesse período, quatro jornalistas foram mortos por conta de matérias que levantavam suspeitas sobre a malversação de recursos públicos. Embora esses jornalistas assassinados atuassem no interior do País, o número posiciona o Brasil como o quarto país mais letal para os profissionais da imprensa.

Embora o Brasil figure entre os maiores PIB do mundo, os países que nos acompanham na lista dos piores lugares para a imprensa não costumam ser um bom exemplo de democracia. Figurar como o quarto mais letal para a imprensa pode significar uma luz de advertência para a democracia brasileira.

Depois de Hitler, a democracia dos nossos dias não pode ser medida apenas pela participação popular nas eleições. A fragilidade da democracia de massas se encontra na possibilidade de elementos emocionais dominarem a ação política pela ação de um demagogo.

Nas democracias modernas, deve existir uma complexa estrutura de instituições confiáveis para imprimir a correção dos impulsos emocionais das massas e, ao mesmo tempo, permitir que a voz do povo chegue até aos ouvidos dos dirigentes. Os dirigentes democráticos modernos precisam reforçar a confiança da população nos mecanismos institucionais. Essa confiança se forma pelo respeito que os governos e a burocracia do Estado demonstram pelos direitos e deveres institucionalizados.

Tão importante como o voto livre para a democracia, são também indispensáveis os serviços públicos, os direitos humanos, os partidos políticos e a imprensa livre. A luz de advertência acendeu para a nossa democracia, quando o Comitê para a Proteção de Jornalistas listou o Brasil como um dos 10 países mais inseguros para a imprensa. Esse comitê é uma organização que foi criada em 1981 para fazer frente ao assédio de governos autoritários contra jornalistas.

Será que podemos ficar tranquilos com a nossa democracia, quando um comitê que luta contra assédio de governos autoritários lista o Brasil entre os dez mais inseguros para a profissão de jornalista? Como pretendemos reforçar o nosso poder entre as nações responsáveis se somos marcados com esses números de violência contra jornalista?

É certo que em um País com índices de violência estratosféricos, que mata anualmente mais do que em países com guerra declarada, o número de jornalistas mortos pode ser considerado insignificante se comparado às dores das milhares de famílias brasileiras que todo ano enterram os seus mortos. Ocorre que o simbolismo da morte de jornalistas afeta mais do que a dor privada dos seus familiares. Afeta a reputação do Estado se as instituições do governo não derem atenção especial a esses crimes. Afeta a confiança da sociedade no sistema político.

Um Estado democrático moderno é o responsável final não só pelas regras do sistema. Vai mais além. Tem a obrigação de prestar contas dos fatos políticos que ocorrem na sociedade e no Estado.

O feedback que o governo deve à sociedade somente pode ocorrer quando a imprensa executa o seu papel livremente. Por isso, a violência contra a imprensa representa um potencial atentado contra o direito da sociedade de ser informada.

Devemos ficar atentos com a violência contra os jornalistas. São os jornalistas que informam à sociedade sobre a qualidade das políticas dos governos. São os jornalistas que não deixam a sociedade se tornar alienada. Devemos ficar atentos para o relato do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, porque se ninguém reclamar quando eles arrancam uma flor do jardim, o povo desinformado não vai perceber quando quiserem te calar.

*George Hilton é deputado federal, líder do PRB na Câmara dos Deputados e presidente do PRB Minas Gerais.

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