Tia Eron destaca o trabalho do PRB Igualdade Racial

Entrevistamos a coordenadora nacional do PRB Igualdade Racial

Publicado em 28/10/2013 - 00:00 Atualizado em 18/6/2020 - 11:23

Ela quer trazer a identificação da autoafirmação do “eu sou negro” à população brasileira. Nesta semana, a coordenadora nacional do movimento PRB Igualdade Racial discute sobre o discurso silenciador de que não existe discriminação no Brasil, “Isso é uma maquiagem”, adverte. Ainda, Tia Eron confirma que o movimento abordará não somente assuntos relacionados aos negros, mas também, debaterá a realidade dos ciganos, dos indígenas, dos brancos e dos amarelos.

 

ENTREVISTA

1- Qual o diferencial do PRB Igualdade Racial?

E.V. – O grande diferencial é porque nós estamos em um país onde a população como no estado da Bahia, por exemplo, é majoritariamente de negros. Perdemos apenas para uma cidade africana chamada Lages. Nós somos um movimento rico: O Brasil precisa ainda discutir sem preconceitos, com liberdade, com o coração também aberto sobre a questão da discriminação, com a questão do preconceito que é latente em nós. Quando eu falo de “questão”, eu falo do problema hoje que o negro enfrenta, sobretudo, as mulheres negras, no sentido da mão de obra. Ou seja, a criação do PRB Igualdade Racial demonstra a preocupação do presidente Marcos Pereira no sentido de trazer um braço dentro desses setores para trazer discursões.

2- Qual tema que a sua coordenadoria já adotou como prioridade de trabalho?

E.V. – A nossa prioridade é trazer a identificação. O brasileiro se denomina pardo, se denomina branco, coisa que não é nossa realidade. Nós temos ainda um equívoco: Nós não temos uma autoafirmação “sou negro”, pois isso ainda soa pesado, soa grosseiro. As pessoas tendem a receber esta autoafirmação como falta de educação, o dizer “sou negro”. Eu não quero ser moreninha, eu não quero ser Cabo Verde, eu não quero ser índia, eu quero ser negra porque isso é o que eu sou. Então, eu acho que o maior desafio do PRB Igualdade Racial será realmente implantar essa identificação. Estamos buscando inclusive, de forma profunda, trazer exames de DNA para sabermos de que ancestrais pertencemos na África: Se da República dos Camarões, do Congo, do Kivu, para podermos ter essa autoafirmação do “sou negro”, e não do “sou pardo”, “sou moreninho”, “sou Cabo Verde”, mas nos autoafirmar daquilo que nós herdamos que é da mãe África.

3- Algumas pessoas dizem que no Brasil o preconceito é pouco, a senhora concorda?

E.V. – Isso é uma maquiagem, um discurso silenciador, afirmar que não existe nenhum tipo de discriminação racial no Brasil. Você precisa ser negro para entender o que é essa discriminação, esse preconceito. Você chegar a um ambiente e, pela sua cor, você ser medido no campo social, no âmbito social em grau de importância e, pela sua melanina, você é menos importante. Isso é o nosso Brasil! Se você chega a um restaurante que tem uma carta cara de cardápio, seguramente, se tiver um negro ali será surpresa, pois seguramente eles não ocupam lugar de destaque. Por isso que nós trouxemos amigos do Congo e que trabalham dentro da França, em Paris, para conhecer um pouco dessa nossa estrutura e conversarmos e trocarmos esse tipo de experiência. Acredito que é válido sentarmos um pouco com eles, que promovem o Pan africanismo, França – Brasil, pois conseguimos incutir na cabeça do brasileiro aquilo que a gente chama de consciência. Sem contar também, na escala da pirâmide social, as mulheres negras perdem para as mulheres brancas e perdem também para os homens brancos. Então, elas estão realmente a um nível bem abaixo daquilo que a gente quer que elas estejam no mercado de trabalho. Quando eu falo de “questão”, eu falo do problema hoje que o negro enfrenta, sobretudo, as mulheres negras.

4- E como tem sido a expansão do PRB Igualdade Racial nos outros Estados?

E.V. – Eu fiquei surpresa. Eu estive em Porto Alegre e fiquei encantada, por exemplo. O presidente regional, o deputado estadual Carlos Gomes, de uma forma muito inteligente conseguiu captar a ideia do que é essa Igualdade Racial. Quando eu cheguei lá para dar posse aos diretórios, eu me deparei inclusive com orientais, ou seja, ele entendeu aquilo que é o Brasil e aquilo que é a proposta do PRB Igualdade Racial. Porque quando nós focamos o negro, nós não queremos apenas esse debate, nós queremos o debate dos ciganos, queremos o debate indígena, nós queremos o debate também do branco, dos amarelos, nós queremos aquilo que tem no Brasil e nós estamos buscando. Assim será a visão de expansão do Movimento em todo Brasil.

5- De que forma a senhora pretende intensificar esses trabalhos?

E.V. – A gente precisa iniciar daquilo que chamamos de debate, daquilo que chamamos de fórum. O fórum é de onde saem as ideias e, a partir das ideias, teremos também políticas públicas e, tendo políticas públicas, nós teremos concretização. Então, estamos já a um passo desse debate, desse grande fórum e eu quero iniciar em Salvador. Lá é o nosso berço, é a nossa mãe África no Brasil e queremos expandir para os demais Estados. Debatendo desta forma, seguramente, essa geração que vem de meninos e meninas vai ter outro discurso no sentido da questão racial.

6- Como tem sido a parceria com a Fundação Republicana Brasileira?

E.V. – Sem dúvida nenhuma a Fundação é pioneira na questão política partidária com eficácia. Estamos concretizando ações aonde ela fornece uma estrutura, ou seja, ela dá condição de melhor trabalho para os Movimentos do PRB. Eu fico extremamente fortalecida em saber que além de dar cursos de línguas, no formato de bolsas, gratuito, a Fundação Republicana Brasileira também dá e ainda pensa na ampliação do mercado de trabalho, principalmente, para as mulheres.

Por Jamile Reis e  Elisa Ribeiro / Agência PRB Nacional
Foto: Douglas Gomes

 

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