O Acre e a vontade de ser brasileiro

Artigo escrito por Mauro Silva, presidente da Fundação Republicana Brasileira (FRB).

Publicado em 28/7/2014 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 15:53

Em tempos de Copa do Mundo, o brasileiro experimenta momentos de patriotismo. Este sentimento aflora principalmente no início das partidas, durante a execução do hino nacional: a voz embarga, os olhos enchem de água e nós nos sentimos brasileiros.

O esporte proporciona essas coisas. De certa maneira, ele substitui a guerra como espaço e forma de afirmação do orgulho nacional. Mas ele vive essencialmente de grandes batalhas mundiais organizadas em eventos como as olimpíadas e a copa do mundo, entre outros.

Quando as competições passam, o patriotismo adormece. Correto? Sim, a não ser, pelo menos, em um lugar. E este é lugar é o Acre.

Nunca vi tanta vontade de ser brasileiro como vi em Rio Branco, capital do estado acreano. O patriotismo está encravado no coração deste povo que, a rigor, foi o único que pegou em armas para poder fazer parte do Brasil. Na sua fundação,  sob a liderança de Plácido de Castro, os colonos lutaram contra os bolivianos para, um vez independentes, passarem a compor o território nacional.

A história está viva por toda parte. Está nos nomes das ruas, nos museus bem conservados e no hino acreano, que todos fazem questão de cantar durante as ocasiões cívicas, juntamente com o hino nacional. Mas nem só de passado vive o acreano.

Passeando pelo cais do porto de Rio Branco, é possível sentir toda a vitalidade e a pluralidade de ser brasileiro. Em pouco mais de 400 metros de caminhada é possível enxergar o nosso caldeirão cultural em toda a sua complexidade e complementariedade.

No dia que estive lá, numa das pontas do cais haviam católicos agradecendo pela diminuição das chuvas. Próximo a eles, debaixo de um tenda, um grupo de evangélicos encenava uma peça falando da importância da aceitação de Jesus na recuperação de um alcoólatra, emocionando todo mundo que ali estava. Cerca de 100 metros à direita um grupo de capoeiristas (chamado Brasil) jogava e cantava suas músicas em frente a um restaurante (que também se chamava Brasil). Por fim, andando mais um pouco, passando por entre os bares, era possível sentar e escutar um músico tocando MPB e rock nacional com seu violão.

É comum por aqui escutar piadas de que o Acre não existe. Estando lá, passei a concordar com elas. Esse estado e esse sentimento realmente não existem. Lá é um lugar único e mágico. No coração da floresta é possível sentir um Brasil genuíno e pulsante, um patriotismo magnético que faz emocionar tanto quanto o hino cantado à capela. Dizem que o Acre é o fim do mundo. Mas nisso eu discordo. O Acre não é o fim, mas é o início e o centro de uma brasilidade forte e ingênua, como normalmente são as coisas boas.  Que o resto do Brasil possa aprender com o Acre o que é a vontade de ser brasileiro.

*Mauro Silva é presidente da Fundação Republicana Brasileira – FRB

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