Meu corpo não é sua fantasia

Artigo escrita por Ireuda Silva, vereadora de Salvador pelo PRB; presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão da Reparação

Publicado em 22/2/2019 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 11:20

Carnaval tem música, bloco, confete, serpentinas, flerte e paquera, mas também são frequentes beijos roubados, apalpadelas e palavras de baixo calão. Tais atitudes constrangedoras são sempre direcionadas às mulheres, vítimas corriqueiras de abuso e constrangimento sexual.

As denúncias de assédio no Carnaval cresceram 90% nos últimos anos, segundo a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, o Ligue 180. Isso demonstra o quanto vivemos em uma sociedade machista, em que as mulheres são tratadas como objetos disponíveis para satisfazer prazeres e vontades dos homens. O sentimento das vítimas é o que menos importa.

O que motiva o assédio não é a vontade de elogiar ou de estabelecer uma conexão de interesses mútuos. O objetivo é subjugar, coagir e se fazer sentir superior, ou até mesmo reafirmar uma masculinidade egocêntrica baseada em normas de comportamento patriarcais. O mais cruel nisso tudo é que, independentemente de reagir ou não, a vítima ainda se sente culpada, quando na verdade a culpa do assédio é sempre do agressor.

Assédio sexual causa malefícios terríveis à saúde psicológica, física emocional da mulher. Além da naturalização desse tipo de comportamento, é comum o surgimento de ansiedade, estresse e depressão. Além disso, o assédio é um tiro na autoestima, o que também acaba prejudicando as relações sociais.

Com isso em mente, levaremos às ruas de Salvador nesse Carnaval a campanha “Meu corpo não é sua fantasia”. A ideia é promover ações educativas e distribuir material gráfico com orientações sobre o tema, incluindo canais de denúncia para as vítimas. Também trabalharemos em conjunto com a Guarda Municipal, a Ronda Maria da Penha (Polícia Militar) e outros órgãos do poder público.

Enquanto sociedade, precisamos entender que uma investida sexual precisa estar munida do consentimento de ambas as partes, o que não ocorre quando se utiliza palavras depreciativas ou que causem medo ou firam a dignidade da mulher. Por fim, silêncio não é consentimento. Se a “cantada” não for recebida com um “sim” ou com um gesto claro de reciprocidade, a regra é se afastar.

*Ireuda Silva é vereadora de Salvador pelo PRB; presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão da Reparação.

 

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