Tem que meter a colher, sim!

Até junho deste ano, a Central de Atendimento à Mulher, que inclui o Disque 180, já registrou 32.294 denúncias sobre violência doméstica e familiar contra as mulheres

Publicado em 14/7/2021 - 10:09

Olá, mulheres republicanas de todo Brasil.

Em 2017, escrevi um artigo que foi publicado em alguns jornais com o título “Tem que meter a colher, sim!” Fazia referência à violência contra mulheres e a necessidade de mudar este cenário. Uma das leis mais conhecidas da sociedade brasileira, seguramente, é a Lei Maria da Penha, que este ano completa 15 anos. E só é conhecida porque, ainda nos dias de hoje, parece que muitas pessoas consideram natural um homem tomar para si o direito de humilhar, bater, estuprar ou mesmo matar uma mulher.

O escritor, negro e grande entendedor brasileiro das minorias sociais, Lima Barreto, já em 1915, falava sobre o feminicídio. Ele escreveu um texto chamado “Não as matem”. Reparem, ele escreveu em 1915. E 102 anos depois, o texto é extremamente atual. E por que é atual? Porque parece que não houve evolução no pensamento machista que ainda domina a nossa sociedade.

Existe um termo muito popular e que ainda é seguido por parte da sociedade: “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”.

E é justamente por “não meter a colher” que muitas mortes aconteceram. A sociedade tem que reconhecer seu papel, sua responsabilidade neste assunto para que a gente possa avançar. Tem que meter a colher, sim!

Até junho deste ano, a Central de Atendimento à Mulher, que inclui o Disque 180, já registrou 32.294 denúncias sobre violência doméstica e familiar contra as mulheres. Uma grande fatia deste número foi de feminicídios, ou seja, mulheres que foram mortas pela condição de gênero e estes assassinatos foram praticados em sua maioria por companheiros, ex-companheiros ou pretensos companheiros.

Na semana passada, estive com a deputada Tereza Nelma, da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados que, com apoio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, lançou o Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP).

Como secretária nacional do Mulheres Republicanas, sugeri uma parceria do nosso movimento com o ONMP para que possamos ter acesso mais rápido sobre a realidade das mulheres eleitas em todas as esferas.

Desde que assumiu esta função, no final de março deste ano, já tivemos conhecimento de cerca de 10 casos de violência contra nossas mulheres eleitas democraticamente, pelo simples fato de serem mulheres ocupando um cargo público.

É por isso que devemos, sim, meter a colher, não importa que tipo de violência foi praticada – física, psicológica, sexual, patrimonial, moral ou política – apoiando as vítimas para que elas denunciem e usando os instrumentos que temos, como o Disque 180.

Eu, como mulher, mãe, nordestina, negra e parlamentar, espero que a sociedade mude.

Eu espero que, daqui a alguns anos, a Lei Maria da Penha, cumprindo o seu papel, continue sendo conhecida por toda a sociedade como uma proteção efetiva dos direitos da mulher.

E, acreditando numa mudança, que ela não precise ser tão utilizada como é nos dias de hoje.

Eu espero que a sociedade deixe de lado o seu machismo, entranhado, arraigado e acabe de uma vez por todas com a violência contra a mulher.

Tia Ju é secretária nacional do Mulheres Republicanas e deputada estadual pelo Republicanos Rio de Janeiro

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