Em entrevista, Vinicius Carvalho fala sobre seu trabalho social e a política

Coordenador de Ação Social da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo

Publicado em 25/11/2013 - 00:00 Atualizado em 18/6/2020 - 11:27

Durante a nossa conversa entendemos o porquê que ele se nega a trabalhar trancado no gabinete: Outrora, na década de 70, ele vivia em situação de pobreza numa “favela”, onde era comum conviver no meio de drogas e prostituição. A difícil condição daquele jovem não abalou a vontade de lutar por um Brasil mais justo – Foi eleito deputado federal e ficou famoso pelo trabalho social realizado em comunidades carentes do Rio de Janeiro. Atualmente, ele topou liderar a Coordenadoria de Ação Social da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo (CAS), onde 645 municípios são acompanhados e beneficiados sob sua supervisão. Nesta semana, você verá como se gasta a sola do sapato com o republicano Vinicius Carvalho.

 

ENTREVISTA

1. Qual a sua experiência na área social?

Vinicius Carvalho – Então, a experiência na área social que eu tenho não é uma experiência acadêmica, não é uma experiência profissional, mas é uma experiência de vida porque hoje eu trabalho na assistência social para poder alcançar as pessoas que estão lá na ponta vivendo em situação de pobreza e vulnerabilidade, como eu vivi. Na década de 70, quem estava lá na ponta vivendo em uma situação de pobreza e vulnerabilidade era eu, no morro, na favela, no meio de drogas, de prostituição, eu presenciei essas coisas todas no Rio de Janeiro.

 

2. Como surgiu o convite de assumir a Coordenadoria de Ação Social em São Paulo?

Vinicius Carvalho – Estávamos em reunião quando houve a indicação do secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Rogerio Hamam, e do próprio presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, devido ao meu trabalho como deputado federal pelo Rio de Janeiro e também todo o trabalho social que eu fiz no Rio. Lá, criei a Jornada de Cidadania, onde nós atendemos quase 8 mil pessoas nas 13 edições que fizemos. Esses eventos eram realizados apenas em comunidades, em cidades carentes, onde o poder público de fato não entrava. Por conta dessa atuação, fui convidado para fazer o trabalho aqui em São Paulo. Quando aceitei o convite eu disse como eu gostaria de trabalhar: Em equipe e gastando sola de sapato.

 

3.  E qual é o trabalho desenvolvido pela CAS?

Vinicius Carvalho – Trata-se de todo o trabalho de ação social e de assistência social do estado de São Paulo, trabalho que passa por supervisão, por fiscalização e passa por aprovação das diretorias que, no caso, são ligadas a mim diretamente, sob minha responsabilidade. Mas eu não trabalho dentro de gabinete! Eu gosto de trabalhar em campo! Ainda mais pelo aspecto da área social porque eu nasci no morro, me criei na favela. São 26 diretorias regionais e, no total, já foram 21 unidades visitadas por mim em quatro meses que estou no comando do CAS.

 

25_11_13_entrevista_sp_vinivius_carvalho_coordenador_cas_acao_social0024Como é a sua rotina?

Vinicius Carvalho – Eu vou para uma Região e passo um dia inteiro por lá. Depois, sigo para outra. Eu quero conhecer nossos funcionários e todas as diretorias. Nós temos um total de aproximadamente 330 funcionários, ou seja, é uma equipe muito grande sob minha responsabilidade. Uma coisa que é dita, um argumento uníssono no meio da equipe: Que nunca houve essa proximidade da Secretaria lá na ponta, nos distritos, nas diretorias, eles nunca foram ouvidos. Esse trabalho de ir até as diretorias, mesmo em regiões bem distantes, está criando neles uma motivação, está renovando as esperanças nos funcionários de que a Secretaria agora está olhando para eles. Principalmente, naquilo que eles têm pontuado para ser de extrema importância para o trabalho, tanto na questão profissional e de capacitação, quanto na questão de melhorar a qualidade dos instrumentos de trabalho.

 

5. E como lidar com o diagnóstico destas visitas?

Vinicius Carvalho – Com as visitas e encontros nós temos diagnosticado onde há falhas, onde há problemas. Daí, nós temos reportado ao secretário Rogerio Hamam, onde ele prontamente, naquilo que é factível, tem dado total apoio. Também, nós temos procurado ajustar as imperfeições que já existiam há muito tempo, mas que os antigos secretários e diretores não tinham conhecimento, pois não atuavam desta forma. Um ponto positivo é o nosso contato direto com os gestores municipais, que são os secretários municipais de assistência social de cada cidade, pois nós temos cidades, como a diretoria de São José do Rio Preto, por exemplo, que tem 43 municípios. Temos também outra diretoria que possui 47 municípios ou 39 municípios sob a responsabilidade dos gestores municipais. Outro ponto importante é o encontro que nós fazemos também com os representantes de entidades sociais, eles são considerados o braço do Estado. Para você ter uma ideia, são 2.569 entidades cadastradas no Pró-Social, todas elas ligadas aos seus Conselhos Municipais de Assistência Social, que por sua vez recebem recursos do Governo do Estado através do Fundo Estadual de Assistência Social. Então, nós temos um contato direto com eles que estão na ponta, lá no meio da periferia, e que nunca foram ouvidos.

 

6. De que forma o senhor pretende enfrentar os problemas encontrados no Estado?

Vinicius Carvalho – Por mais que sejam problemas de Estado, ou seja, todo Estado tem um problema de drogadição, todo estado tem um problema na parte de prostituição infantil, todo estado tem problemas de pessoas que moram nas ruas. Porém, o enfrentamento deve ser feito de forma regionalizada, pois cada região tem as suas peculiaridades. O que pode ser feito no noroeste paulista não é a mesma coisa que acontece lá embaixo no Vale do Ribeira, onde a área populacional e o IDH são muito baixos. O que acontece na capital é diferente do que acontece na região de Sorocabana, que é a região de Presidente Prudente. O objetivo é ajustar conforme cada região. Então, nós colhemos as peculiaridades e levamos as informações ao secretário Hamam durante nossos encontros periódicos. A ideia é reportar a ele o que eu tenho ouvido, a fim de fazer com que as políticas públicas que possam surgir já tenham o viés de, primeiramente, ouvir as bases para que possa ser feita a adequação. E, as políticas públicas que já existem, na medida do possível, que sejam adequadas de acordo com as necessidades de cada região e, claro, dentro da possibilidade legal para poder ajustá-las. Com isso, tenho certeza que tais políticas públicas poderão atingir a todas as pessoas que necessitam ser atendidas, que são as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade extrema.

 

7. Nesses quatro meses, o que o senhor tem priorizado como gestor do CAS?

 Vinicius Carvalho – Tenho procurado focar nossa atenção para uma área que é muito esquecida, que é a que cuida do idoso, o que é portador de deficiência tanto física, quanto intelectual, como também do idoso com problema de saúde como no caso do Alzheimer. Tenho falado com o secretário Rogério para que nós possamos implementar mais projetos de atendimento ao idoso e ele já pediu que nós fizéssemos um estudo para fazer políticas públicas neste sentido. Outro aspecto que é prioridade é sobre o repasse feito pelo Fundo Estadual de Assistente Social. Atualmente, ele só pode ser utilizado para um tipo de atividade, mas nós estamos lutando que o processo volte ao estado original, onde a pessoa que recebe o recurso possa utilizá-lo para coisas específicas independentemente de o técnico dizer que o que as pessoas precisam sejam outra coisa. A ideia é deixar a decisão a critério do técnico municipal, daí o regional dá a chancela e aprovação. Então, nós, como gestores do Fundo, devemos acreditar no controle dos nossos técnicos que estão fazendo a aprovação e deixar a população usar o recurso de acordo com a sua necessidade, não de acordo com aquilo que pensamos ser a sua necessidade.

 

25_11_13_entrevista_sp_vinivius_carvalho_coordenador_cas_acao_social0038.  Eleição, existe alguma proposta para 2014?

Vinicius Carvalho – Estou trabalhando, já me coloquei a disposição do partido e, se o partido entender de fato que devo concorrer em 2014, então concorrerei com o maior prazer. A minha preocupação hoje é um pouco mais madura: Além de cuidar da questão do direito do consumidor, que é uma bandeira que não posso abrir mão jamais, também tem o aspecto da assistência social, que é a minha experiência de vida. Não se trata de uma questão política, se trata de uma questão de humanidade! Quiséramos que os homens públicos tivessem um pouco dessa sensibilidade humana para poder fazer com que chegasse mais recursos para a área da assistência social! Não estou aqui fazendo nenhum tipo de proselitismo no sentido do assistencialismo, não é isso, pelo contrário, devemos dar apoio às pessoas que necessitam e dar a elas oportunidades para que saiam da situação em que se encontram. Eu fui assim no passado. Eu vivi em uma situação de necessidade, mas aproveitei a oportunidade que tive para transformar a minha vida. Então, é nesse tipo de política social, de assistência social que eu acredito.

 

Por Helen Assumpção / Agência PRB Nacional
Edição e abertura: Jamile Reis / Agência PRB Nacional
Fotos: Douglas Gomes

 

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